sábado, 21 de novembro de 2009

O último a sair apague a luz

Quando os pensamentos não te deixam mais dormir. Não há passiflora que resolva, não há reza, nem pedido.
A insônia vem e povoa a imaginação. Você viaja, voa, plana, deixa que a tempestade te leve... e ela leva...
E então o medo, a covardia, as ressalvas, a ética ou seja lá como isso possa ser chamado te traz pra uma consciência cruel. Te segura pela mão e conduz para os cantos mais obscuros da sua imaginação, te faz sentir culpa e dor... e medo... muito medo.
Medo de arriscar algo novo, medo de (quem sabe) ser feliz, medo de errar e de ferir ou ser ferido, medo de viver.
Você dorme de cansaço, mas o sono é difícil e entrecortado. Os sonhos povoam a sua fantasia e por alguns segundos você pode ser a princesa indefesa salva pelo encantado e corajoso príncipe que enfrenta e destrói o dragão.
Porém, logo os pensamentos voltam e não há calmante, relaxamento ou exercício de respiração que te dê forças para expulsá-los.
... e então outro dia começa, e você se ilude dizendo que talvez acordado seja mais fácil...
O último a sair, por favor, apague a luz.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A espera

Sua principal característica sempre fora a impaciência.
Nunca parava pra pensar nisso, mas era tremendamente ansiosa e imediatista.
Uma de suas músicas preferidas dizia: "I want it all and I want it now" na voz potente de Freddie Mercury.
Pontualíssima, sempre chegava aos compromissos com quinze minutos de antecedência. Nunca faltava às sessões de terapia. Justificava sua obsessividade dizendo "sou virginiana".
Todos sabem da fama dos virginianos... organizados, pontuais, exigenes, chatos e outras características que, por si só, definiam quem ela era.

Exceto por um mínimo detalhe que ela se esforçava em esconder, seu ascendente era em Peixes, o oposto de virgem. Isso causava tempestades incríveis de humor. Ora sensível e chorona, ora racional ao extremo.
Incompreendida. Era assim que se sentia.
E sempre se perguntava: "quantas de mim cabem em mim mesma?". Sem ao certo saber o que isso significava.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Quando o passado se torna presente

De repente tudo aquilo que você imaginava ter enterrado, em algum lugar do passado, volta à vida. Nesta hora você descobre que nada havia morrido, estava ali adormecido, quieto, mas não morto.
Mistura de sentimentos, afinal você passara boa parte do seu tempo velando e enterrando mortos e, quando acreditava que a dor passara e a perda fora inevitável, eis que tudo ressurge com força total.
Dor e alegria.
Desejo imenso de voltar no tempo e, talvez, mudar o rumo dos acontecimentos.
Experimentar outras escolhas, só pra ver aonde te levam. Mas não é possível... essa é a crueldade da vida... cada escolha é única e traz outra e outra e outra... nunca mais a mesma.
O tempo passa, as pessoas mudam, nós mudamos e aprendemos que não devemos olhar pra trás, nunca.
Orfeu perde Eurídice pra sempre ao olhar para trás, não há mais volta, não há possibilidade de retomar sua alma. Assim nos sentimos ao olhar para o passado, parece que parte da alma ali ficou... e não há mais volta...